
A artista plástica Tomie Ohtake morreu às 12h45 desta quinta-feira (12), em São Paulo, aos 101 anos. Em nota, a família informa que a causa foi choque séptico causado por broncopneumonia. Tomie estava internada desde 2 de fevereiro no Hospital Sírio-Libanês, na região central da cidade, para tratamento de uma leve pneumonia. Ela reagia bem ao tratamento e estava prestes a ter alta médica, mas na manhã de terça-feira (10) engasgou com o café da manhã, teve uma broncoaspiração seguida de parada cardíaca e foi internada na UTI do hospital.Japonesa que se tornou brasileira com o tempo, ela foi uma das figuras mais importantes das artes plásticas no Brasil. Começou a pintar tarde, aos 39 anos, e ficou conhecida do grande público com as grandes esculturas que mudaram a paisagem urbana de São Paulo. Fez mais de 50 exposições individuais e participou de mais de 80 coletivas. Teve uma carreira produtiva, reconhecida e longa.
"O trabalho faz bem sempre", afirmou em entrevista ao Bom dia Brasil, da TV Globo, sobre as obras que planejava perto do seu aniversário de 100 anos, em 2013.
A paisagem de São Paulo ganhou a cara de Tomie Ohtake. São criações dela as curvas coloridas das grandes esculturas que dividem os dois lados da via expressa da Avenida 23 de Maio (homenagem aos 80 anos da imigração japonesa no Brasil); os quatro painéis de 2 metros de altura por 15 de comprimento que representam as estações do ano no metrô Consolação; as ondas vermelhas de gesso da obra presa ao teto do Auditório do Ibirapuera; o arco vermelho de 3 toneladas e 12,5 metros de altura no Brooklin; e o painel de 23 metros de altura na lateral do prédio que leva seu no Itaim Bibi.Tomie Ohtake nasceu em 1913, em Kioto, no Japão. Veio para o Brasil em 1936, aos 23 anos, para visitar um irmão que já morava aqui, e acabou ficando. A japonesa se impressionou "com a intensidade da luz amarela, do calor e da umidade ao desembarcar no Porto de Santos", conta a biografia do site do Instituto Tomie Ohtake.
"Com a iminência da Segunda Guerra, permanece em São Paulo, onde se casa e tem dois filhos, Ruy e Ricardo Ohtake. Estabeleceu residência no bairro da Mooca", informa o texto.
O interesse por desenho vinha desde criança, na escola no Japão, onde o ensino de artes é muito valorizado. Mas antes de ser artista, formou família e criou os dois filhos. Só aos 39 anos começou a fazer suas primeiras pinturas. Foi incentivada pelo pintor japonês Keisuke Sugano, que deu aulas de passagem pelo Brasil.
"Quando comecei a pintar aqui no Brasil, já era muito evidente o meu espírito brasileiro, ou ocidental, portanto já distante da origem oriental, mas devo ter tido sempre, até hoje, influência da terra em que nasci e cresci", lembrou Ohtake à revista "ArtNexus", em 2005.Em 1968 ela se naturalizou brasileira, já envolvida e reconhecida na cena artística nacional. Com os trabalhos feitos em cada vez maior escala, às vezes ela tinha que sair de casa, na Mooca, onde ficava seu ateliê, para ver suas pinturas maiores.
Em 1969, junto com outros artistas, ela se recusou a participar da 10º Bienal Internacional de São Paulo, em protesto contra a Ditadura Militar. Em 1974 recebeu o prêmio de melhor pintora do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte – voltou a ganhar o mesmo título em 1979, entre outras dezenas de prêmios antes e depois.
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